segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Minha mãe foi abduzida (5)


Ano de 2006.
            O esquecimento da mamãe foi acentuando cada vez mais, o médico diagnosticou Alzheimer, a doença do esquecimento. Tenho a impressão até hoje que a medicina na área do cérebro, ainda caminha, enquanto nós leigos mergulhamos na profundeza do desconhecido. É uma doença que evolui e se transforma, fazendo com que sua “cuidadora”, por muito pouco, não chegue à loucura.
 Comportamentos variáveis, em situações do cotidiano, o simples esquecimento, a de esconder os objetos, o da revolta e birra com algumas pessoas da casa, comer o tempo todo por esquecer que acabou de comer, o de não querer tomar banho, fugir de casa, agredir aquele que cuida dele, o de esquecer como se usa o banheiro e quando está com vontade o uso da fralda passa a ser inevitável, fazem parte do processo evolutivo da doença.
Eu digo que a pessoa que é assolada por essa doença, seu interior sua essência é abduzida por algum extraterrestre. Deixando um ser que você o conhece mas que não o reconhece. Sem contar que ele também nos desconhece.
Como dói ouvir de sua mãe:
- Eu nunca fui casada, não tive filhos. Quem é você?
Onde está minha mãe? Quero ir para casa dela. Saudade do papai, e assim por diante.Volta à infância, e vai retrocedendo até que esquece como se come.
Medicação cara que produz efeitos colaterais terríveis que o faz piorar a cada dia que passa, troca de medicamento, uma luta sem fim.
    Pessoa de confiança para ajudar, se torna cada vez mais difícil, as violências, as agressões, afastam o profissional.
Um dia após consulta, a médica me disse que estava na hora de interná-las em uma casa de repouso, meu sofrimento era demasiado. Ela tinha razão estava além de minhas forças, eu estava na verdade precisando de ajuda psicológica, estava entrando em depressão.
   Não tenho irmãos, sou a sua única filha e a única sobrinha para cuidar de minha tia e madrinha ,sou de um tempo em que se acreditava que madrinha é sua segunda mãe. Foram elas que cuidaram de mim a vida toda, como poderia dar as costas no momento em que elas mais precisavam de mim?
Não! Não, teria coragem de fazer isso com elas, preferiria morrer a fazer tamanha crueldade.
Essa situação perdurou por cinco longos anos, até que as partissem com muito amparo e dignidade.  

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