Ano de 2006.
O
esquecimento da mamãe foi acentuando cada vez mais, o médico diagnosticou
Alzheimer, a doença do esquecimento. Tenho a impressão até hoje que a medicina
na área do cérebro, ainda caminha, enquanto nós leigos mergulhamos na
profundeza do desconhecido. É uma doença que evolui e se transforma, fazendo
com que sua “cuidadora”, por muito pouco, não chegue à loucura.
Comportamentos
variáveis, em situações do cotidiano, o simples esquecimento, a de esconder os
objetos, o da revolta e birra com algumas pessoas da casa, comer o tempo todo
por esquecer que acabou de comer, o de não querer tomar banho, fugir de casa,
agredir aquele que cuida dele, o de esquecer como se usa o banheiro e quando
está com vontade o uso da fralda passa a ser inevitável, fazem parte do
processo evolutivo da doença.
Eu digo que a pessoa que é assolada por essa doença, seu
interior sua essência é abduzida por algum extraterrestre. Deixando um ser que
você o conhece mas que não o reconhece. Sem contar que ele também nos
desconhece.
Como dói ouvir de sua mãe:
- Eu nunca fui casada, não tive filhos. Quem é você?
Onde está minha mãe? Quero ir para casa dela. Saudade
do papai, e assim por diante.Volta à infância, e vai retrocedendo até que
esquece como se come.
Medicação cara que produz efeitos colaterais terríveis
que o faz piorar a cada dia que passa, troca de medicamento, uma luta sem fim.
Pessoa de
confiança para ajudar, se torna cada vez mais difícil, as violências, as
agressões, afastam o profissional.
Um dia após consulta, a médica me disse que estava na
hora de interná-las em uma casa de repouso, meu sofrimento era demasiado. Ela
tinha razão estava além de minhas forças, eu estava na verdade precisando de
ajuda psicológica, estava entrando em depressão.
Não tenho
irmãos, sou a sua única filha e a única sobrinha para cuidar de minha tia e
madrinha ,sou de um tempo em que se acreditava que madrinha é sua segunda mãe.
Foram elas que cuidaram de mim a vida toda, como poderia dar as costas no
momento em que elas mais precisavam de mim?
Não! Não, teria coragem de fazer isso com elas,
preferiria morrer a fazer tamanha crueldade.
Essa situação perdurou por cinco longos anos, até que
as partissem com muito amparo e dignidade.
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